sexta-feira, 26 de março de 2010

Saiba como sobreviver a uma demissão


Fonte: http://computerworld.uol.com.br/carreira/2010/03/26/saiba-como-sobreviver-a-uma-demissao/

De acordo com a especialista Lisa Caldas, existem quatro estágios pelos quais os profissionais passam quando são desligados dos empregos

George Moraetes, executivo de segurança da informação, passou dois anos em busca de recolocação profissional. Entre os resultados desse longo período sem trabalhar, ele foi obrigado a mudar para uma casa menor, o que desagradou tanto sua esposa – a qual já se encontrava impaciente com a situação – quanto seus filhos.

"Você já arrumou emprego?". Estas eram as primeiras palavras que ouvia todos os dias. Depois, as questões continuavam até chegar em "por que só você não consegue se recolocar no mercado?". Moraetes conta que em uma situação delicada como essa é difícil fazer com que os outros entendam que são poucas as vagas disponíveis.

A falta de emprego, principalmente para uma pessoa que costumava ocupar posições de decisão, gera muito mais transtornos do que a ruína financeira. A situação desencadeia sentimentos que podem levar até  a uma depressão profunda do profissional.

Na tentativa de combater todas essas emoções, Moraetes continuou seguindo em frente e estabeleceu uma rotina de horas diárias voltadas a atividades que poderiam acelerar sua contratação.

Ele enviava currículos personalizados e adaptados para cada oportunidade que surgia, frequentava eventos do setor, com o intuito de estabelecer e retomar o networking, participava ativamente de redes sociais - como o LinkedIn e Twitter - e realizava alguns trabalhos voluntários dentro do segmento ao qual é especializado. Ele até desenvolveu um software para identificar vagas que não foram devidamente divulgadas na web.

Mesmo com tanta dedicação, Moraetes passou por verdadeiras batalhas psicológicas para enfrentar o ressentimento da família, a insegurança financeira e o sentimento de fracasso. Ele e outros executivos dividem aqui as experiências adquiridas durante períodos difíceis e que afetam diferentes aspectos da vida de cada um.

"Os mesmos estágios vividos quando perdemos alguém que amamos – negação, raiva, depressão e aceitação – são experimentados por profissionais quando estão fora do mercado de trabalho", explica a autora do livro recém-lançado "The Smart New Way To Get Hired: Use Emotional Intelligence and Land the Right Job" (ainda sem versão em português), Lisa Caldas.

Primeiro estágio: uma vida desequilibrada
Jason Alba conta da lembrança de buscar a correspondência na frente de sua casa em um dia útil, no meio da semana, quando estava desempregado. Era meio dia, ele ainda vestia o pijama e quando olhou para a rua percebeu que algo parecia completamente fora do lugar.

O bairro onde morava estava absolutamente silencioso. Nenhum carro passava, todas as casas estavam fechadas e ele era o único ser vivo parado ali na calçada. "Todo mundo está trabalhando para pagar suas contas e eu estou aqui passando grande parte do dia sentado no sofá enviando e-mails", pensou ele.

A maior parte da vida das pessoas está estruturada em torno do emprego. De segunda à sexta-feira os dias começam cedo: primeiro, o despertador; depois uma jornada até a empresa, cerca de dez horas de trabalho e, finalmente, chega a hora de encarar o trânsito de volta para casa.

Por isso quando alguém deixa de trabalhar abruptamente, sente que de repente sua vida desmoronou e que não segue mais estrutura alguma. "Os desempregados não sabem o que fazer com o tempo livre", afirma o psicólogo voltado à consultoria de carreira, Stuart Schneiderman, que complementa: "É comum ver pessoas perderem completamente o equilíbrio mental nessas ocasiões."

No entanto, há aqueles que estabelecem rotinas iguais as que seguiam quando estavam empregados para buscar a recolocação profissional: acordam, vestem-se, sentam-se em frente ao computador e passam cerca de dez horas por dia enviando currículos e buscando contatar colegas que possam ajudar.

Além dessa mudança no dia a dia, a falta de receita financeira fixa demanda muitas vezes a mudança no padrão de vida de toda uma família. Os luxuosos SUVs (do inglês, veículo esportivo e utilitário) são substituídos por carros mais populares, os planos na academia de ginástica são cancelados, junto com as aulas de caratê das crianças. Sair para almoçar ou jantar em restaurantes badalados passa a ser impossível. A compra de roupas ou produtos desnecessários acaba, assim como acontece com a paciência e a estabilidade no relacionamento familiar.

"É preciso estar atento a cada detalhe, a cada despesa que antes passava despercebida", afirma o executivo de TI e operações que está desempregado há sete meses, Lou Bonica. "As pessoas costumam me perguntar o que eu pretendo fazer no verão e eu sou obrigada a responder que não sei nem se estarei trabalhando na ocasião e, por isso, não posso planejar nada", afirma ele, que complementa: "Tudo na vida torna-se incerto e essa situação é muito difícil."

Segundo estágio: incerteza e frustração
Para executivos de tecnologia, os quais estão acostumados a trabalhar com projetos definidos, resultados mensuráveis e prazos pré-determinados, sentir-se sem o poder de controlar a própria vida é frustrante e aterrorizante.

"As ligações que você faz no primeiro mês de busca por recolocação são iguais as que fará meses depois", afirma Bonica. "Se eu soubesse que ficaria um ano fora do mercado, mesmo que essa seja uma previsão pessimista, poderia me programar para tanto, saindo desse mundo de incerteza", complementa.

Ele conta que vários executivos que passaram por essa mesma situação contam que se sentiam da mesma forma, mas que de repente, de um dia para outro, eles passaram do status de desempregados para recém-contratados. "Nunca fui acostumado a uma vida de surpresas, já que como gestor sempre desempenhava o papel de fazer as coisas acontecerem", diz Bonica.

Assustadas em relação a encarar o desconhecido, as pessoas optam por fechar-se em seus mundos particulares, evitando assim ter de dar explicações a outros. Alba conta que, durante o período em que ficou desempregado, temia que seus comentários desanimados preocupassem demais sua esposa e filhos. Por isso, deixou de falar com eles. Parou também de frequentar eventos sociais, já que sua rede de amigos era quase totalmente formada por colegas de profissão.

O mesmo aconteceu com Arun Manasingh, que após 17 meses de busca conseguiu recolocar-se e hoje ocupa o posto de CIO da The Judlau Companies. Para reduzir o problema do contato social, ele passou a participar de encontros de executivos desempregados, o que aumentou sua auto-estima. "Além disso, fiz bons amigos no grupo em que frequentei."

Terceiro estágio: crise de identidade
Embora a rotina e os contatos sociais sejam desregulados depois da perda do emprego, o mais difícil de restabelecer é a identidade do profissional. "Na sociedade moderna, somos identificados pelo papel que desempenhamos em nosso trabalho e, quando isso nos é tirado, é muito complicado de voltarmos a nos enxergar como pessoas", explica o PhD em psicologia e analista em uma consultoria voltada à gestão de carreiras, Michael Thompson.

Jason Alba conta que depois de meses fazendo entrevistas e não recebendo retornos, começou a questionar-se: "Será que sou um bom profissional? O que tenho de errado?" Já no caso de Gia Fischer, a qual foi demitida do posto de CIO de uma empresa de planos de saúde quando todo o departamento de tecnologia foi terceirizado para Índia, as dúvidas foram mais profundas.

"Comecei a pensar se aquilo tinha acontecido porque eu sou mulher, ou porque os demais executivos da companhia eram homens", conta ela, que complementa: "Só depois de muito me torturar enxerguei que se esse fosse o problema eu não teria nem sequer sido contratada".

"Depois dessa conclusão, vi que as coisas acontecem justamente porque é assim que funcionam, e então comecei a vivenciar o desprezo de alguns recrutadores que enxergam os desempregados como incompetentes e pensam que se fossem bons, não estariam procurando emprego", lembra ela. "Passei por maus bocados devido a essa postura dos contratantes", completa.

Quarto estágio: recuperação
Moraetes conta que conseguiu aprender a ignorar a hostilidade de sua família e passou a fazer exercícios físicos quando se sentia deprimido. No início deste ano, depois de oferecer voluntariamente suas habilidades para ajudar as vítimas do terremoto do Haiti, ele foi contratado.

Para a maioria dos recém-empregados, a volta ao trabalho em si já parece ser suficiente para apagar todo o trauma passado anteriormente. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade de Michigan, nos EUA, aponta que os efeitos psicológicos de uma demissão e da demora para voltar ao mercado podem permanecer na inconsciente dos profissionais durante anos.

"Quando eu voltar a trabalhar sempre lembrarei das pessoas que me ajudaram nos períodos mais difíceis e de como sou capaz de me recuperar", afirma Bonica, que conclui: "Além disso, não esquecerei a sensação de ser um desempregado.



Att.
Edney Marcel Imme