TIC do Brasil deverá crescer acima de 10% em 2012
IDC e Gartner estimam ainda que aquecimento do mercado interno reduzirá impactos da crise mundial.
Mesmo com a crise mundial e a desaceleração da economia  nos Estados Unidos, o mercado brasileiro de Tecnologia da Informação e  Comunicação (TIC) continuará vivenciando crescimento em 2012. Analistas  preveem que o segmento no País registrará taxa de aumento acima de dois  dígitos, com projeções entre 10% e 13%. 
Esse índice está bem  acima da taxa de incremento estimada para o Brasil em 2012. Projeções de  economistas e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) são de que o  Produto Interno Bruto do País para o próximo ano ficará em torno de 3%.  Já o PIB industrial está previsto em 2,3%.
Pelas análises do  instituto de pesquisas Gartner, mercados emergentes de TI como 0 Brasil  crescerão em 2012 acima da média global, estimada em 4,6%. O setor de TI  no País registrará  elevação de mais que o dobro, podendo alcançar  taxas acima de 10% no próximo ano. Os investimentos na área para 2012  estão previstos em 143,8 bilhões de dólares.
Até 2015, a  consultoria projeta que o mercado brasileiro de TI experimentará taxa de  crescimento anual de 9,9%. As companhias da América Latina vão investir  384 bilhões de dólares em TI até 2015, segundo o Gartner. O Brasil  responderá por mais de 40% dos negócios.
Entre as tecnologias que  vão levar a maior parte dos orçamentos dos CIOs em 2012 estão soluções  para cloud computing, mobilidade, redes sociais e gerenciamento de Big  Data.  
Na avaliação de Peter Sondergaard, vice-presidente  mundial do Gartner, o Brasil não deverá ser tão afetado pela crise  financeira mundial. Ele destaca que o País tem consumo interno aquecido e  mercado diversificado de exportação. 
Sondergaard lembra da  crise de 2008, quando o Brasil conseguiu se sair bem. Ele observa que as  organizações brasileiras abraçaram a recessão global como uma  oportunidade e buscaram a tecnologia como um fator decisivo, o que  ajudou o País a se recuperar rapidamente na demanda e crescimento de TI.  "Os CIOs brasileiros têm a oportunidade de se tornarem líderes mundiais  na adoção de TI", avalia.
Assim como o Gartner, a consultoria  IDC acredita que as perspectivas são boas para o mercado brasileiro de  TI em 2012. Os números e as metodologias de ambas são diferentes, mas as  taxas de crescimento previstas estão nos mesmos patamares. 
Pelas  análises da IDC, o setor de TI deverá movimentar 81,1 bilhões de reais  em 2012, com crescimento projetado de 11,6% sobre os 72,6 bilhões de  reais estimados para 2011, uma vez que o balanço ainda não está fechado.  
Anderson Figueiredo, gerente de Pesquisas da IDC Brasil,  acredita que a divisão da pizza dos investimentos em 2012 não deverá  sofrer muita variação em comparação com 2011. De acordo com a  consultoria, em 2011, os negócios com hardware deverão representar a  maior parcela dos gastos, respondendo por 54,5% da receita total do  setor. 
Software contribuirá com 13,5% e os 33 restantes serão gastos  com serviços, área que vem crescendo nas companhias que estão  recorrendo mais ao modelo de outsourcing. 
O setor financeiro  deverá manter-se à frente dos investimentos de TI no Brasil em 2012. Mas  o analista da IDC aponta outros segmentos da economia que vão aumentar  as compras. Um deles é o de telecomunicações, que enfrenta a  concorrência acirrada e vai contratar mais tecnologia. As verticais de  manufatura, serviços, saúde, educação e turismo prometem gerar bons  pedidos para a indústria no próximo ano.
O analista da IDC avalia  que o setor de TI do Brasil continuará em alta nos próximos dois anos  pelas condições favoráveis do País. "Nossa TI é quase que totalmente  dependente do mercado interno, que está bastante aquecido", diz  Figueiredo. Como as exportações ainda têm peso pequeno nesse negócio,  ele acha que a desaceleração da economia na Europa e EUA impacta menos  no País.
Figueiredo constata uma demanda reprimida no mercado  brasileiro, citando como exemplo o consumidor final, que está mudando de  classe e comprando mais tecnologia. O crescimento da economia local  também fez com que as pequenas e médias empresas (PMEs) buscassem mais  soluções tecnológicas para melhorar a gestão de suas operações, gerando  mais pedidos para as indústrias de TI.
Declínio das vendas de PCs
Apesar  dos ventos favoráveis, o mercado de TI no Brasil cresceu menos em 2011,  comparado com 2010. O aumento de 11,6% de receita ficou bem abaixo dos  20% registrados no ano anterior, segundo informa o analista da IDC. 
Para  Figueiredo, a queda não pode ser considerada um fator negativo. O  declínio tem mais a ver com a estabilização do setor, que ficou  estagnado em 2009 e conseguiu se revitalizar em 2010, atingindo expansão  recorde. 
Esse efeito foi visível no mercado de PCs que fechou  2011 com a venda de 15,3 milhões de unidades, 9% mais que os 14 milhões  de computadores reportados em 2010, segundo balanço divulgado pela  Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O  aumento ficou bem abaixo dos 17% registrados no exercício anterior,  gerando descontentamento na indústria que esperava desempenho melhor dos  negócios.
Pelos dados da Abinee, com exceção de 2009, quando o  mercado brasileiro de PC fechou com o mesmo volume de vendas de 2008, o  aumento de 9% registrado em 2011 foi o menor desde 2004. 
Na avaliação de Hugo Valério, diretor de Informática da Abinee, a retração do mercado de PC  no Brasil em 2011 pode ser atribuída à soma de alguns fatores. Um deles  é o efeito cambial que acabou impactando no volume de vendas. As  mudanças tecnológicas e o interesse dos consumidores pelos tablets  também contribuíram para redução da demanda.
De acordo com a  pesquisa, do total de computadores vendidos no Brasil neste ano, 9  milhões foram de notebooks e os 6,2 milhões de desktops. A Abinee não  contabilizou nesses números a comercialização de tablets, em razão da  maior parte desses portáteis ofertados no mercado local ter entrado no  País via importação.
Desse total, 74% das vendas foram de  equipamentos legalizados e 26% adquiridos no mercado cinza. Segundo a  entidade, a comercialização de máquinas no mercado paralelo subiu 2% em  2010, quando as vendas oficiais representaram 76% das entregas de  computadores no Brasil.
Com base nos resultados de 2001, as  previsões da indústria de PC para 2012 não são muito otimistas. A taxa  de crescimento projetada pela Abinee é de 9% com a venda de 16,7 milhões  de máquinas.
Otimismo com cautela 
O CEO da  Itautec, Mário Anseloni, comenta que sentiu um recuo dos negócios em  2011 e espera que o ano de 2012 seja melhor. Ele afirma que a fabricante  avançou no seu plano de reestruturação, traçado há um ano e meio para  fortalecer a operação no mercado local e externo, mas que o balanço não  foi tão positivo como em 2010.
Nos nove primeiros meses de 2011, o  faturamento da Itautec foi de 1,07 bilhão de reais, inferior em 6,9% em  relação ao mesmo período de 2010. Anseloni justificou que a queda foi  devido a uma redução nos pedidos dos bancos, que, segundo ele, ficaram  mais temerosos e compraram menos ATMs. Os governos também contrataram  menos tecnologia, de acordo com o executivo.
"Em 2010, a economia  estava mais ativa e em 2011 percebemos redução dos investimentos por  causa do cenário menos favorável. Nossa expectativa é que o mercado  reaqueça em 2012", afirma o presidente da Itautec, que assumiu o cargo,  após deixar o comando da HP Brasil, há um ano e meio, com a missão de  dar novo rumo para a fabricante nacional. 
Uma das apostas da  Itautec para 2012 é a conquista de uma fatia das vendas de tablets para o  mercado corporativo. A empresa quer também aumentar a penetração no  setor de consumo, segmento que a companhia ficou de fora por algum tempo  e está voltando com investimentos, principalmente em notebooks, para  cativar compradores da marca.
A NCR, concorrente da Itautec na  venda de ATMs para bancos, não tem muito do que reclamar. "Esse mercado  cresce entre 4% e 5% ao ano", informa o presidente da companhia no País,  Elias Silva, prometendo artilharia pesada em 2012 para fortalecer a  filial da empresa norte-americana no Brasil.
Segundo o executivo,  a NCR é número um no fornecimento de caixa eletrônico para bancos no  mercado mundial, mas não conquistou ainda essa posição no Brasil nem na  Colômbia. A meta da empresa é chegar ao primeiro lugar nesses mercados  em três a cinco anos.
"Queremos ser os primeiros com  rentabilidade", afirma o presidente da NCR, que prevê que 2012 será tão  bom para a companhia quanto 2011. "Estamos dobrando os negócios aqui e  vamos continuar com a estratégia de oferecer máquinas 100% customizadas.  Um equipamento que faço para o Itaú não é o mesmo entregue ao HSBC",  diz ele.
O modelo de entrega de produto sob medida é diferente de  quando a companhia chegou ao Brasil, com o fornecimento de soluções  padronizadas, como acontece na Europa e Estados Unidos. A empresa  investiu em fabricação local e pesquisa e conseguiu criar sua fórmula  para agradar os compradores brasileiros. Em 2011, reforçou operação com  um acordo com a Scopus, do grupo Bradesco, para aumentar a capacidade de  produção em Manaus.
O clima também é otimista na Avaya.  "Acreditamos no mercado brasileiro e temos uma agenda de crescimento  para o País", garante Nelson Campelo, que acaba de assumir o cargo de  presidente da subsidiária local, com metas agressivas. 
O  executivo prevê uma decolagem no Brasil dos serviços de comunicação  unificada. A companhia está investindo em ampliação do seu leque de  produtos para que os clientes possam fazer uso maior dos recursos de  colaboração, integrando equipes por qualquer tipo de dispositivo,  independente e em rede.
"Estamos prevendo para 2012 crescimento  de 15% para o nosso ano fiscal, que começou em outubro", afirma Campelo,  anunciando expansão geográfica para duas novas praças no próximo ano  que são as filiais de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Apostas em serviço 
A  Stefanini promete avançar nos mercados nacional e externo em 2012 com  anúncio de investimentos de 300 milhões de reais para os próximos três  anos. Metade desse capital ficará no Brasil, onde há disposição para  aquisições. 
Os novos investimentos são para sustentar o crescimento da companhia, que fechou 2011 com receita de 
1,2 bilhão de reais, com aumento de 21% em comparação com o faturamento de 
1 bilhão de reais movimentado em 2010. O Brasil respondeu por 60% dos negócios e o mercado internacional por 40%.
 
Para  2012, as metas da Stefanini são maiores. A empresa projeta ampliação de  receita de 35% e espera encerrar o exercício com 1,6 bilhão de reais. A  abertura de capital permanece nos planos da companhia, mas sem data  definida para acontecer. O fundador Marco Stefanini acha que IPO é algo  para 2015. 
"O ano de 2011 foi de muito crescimento e não fomos  impactados pela crise mundial", comemora Stefanini. A prestadora de  serviços de TI tem clientes em todos continentes, incluindo Europa e  Estados Unidos onde a economia está em ritmo lento. 
Menos entusiasmo na Abinee
Empresários  da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)  demonstram menos entusiasmo com as previsões dos analistas para o  mercado de TIC para 2012. 
O setor estima para o próximo ano  receita de 152,5 bilhões de reais, com aumento de 13%, mas segundo a  Abinee atingir essa meta depende de ações do governo. "O cenário é de  incertezas por causa dos rumos da economia do País e da crise  internacional", diz o presidente da entidade, Humberto Barbato.
A  indústria ficou desapontada com os resultados do setor em 2011, quando  havia previsão de crescimento de 13% e o balanço final foi faturamento  de 134 bilhões de reais, com aumento de 8% comparado com os resultados  de 2010. Um dos fatores que contribuíram para a queda, segundo Barbato,  foi a política cambial, que mantém o real supervalorizado frente ao  dólar, impactando principalmente as exportações. 
"Essa situação  tem provocado perda de competitividade do setor eletroeletrônico, tanto  no mercado externo quanto no interno", reclama Barbato. Ele aponta o  aumento do déficit do setor, que em 2011 atingiu 32 bilhões de dólares,  18% acima do ano anterior, resultado das importações que alcançaram 40  bilhões de dólares, enquanto as exportações não chegaram aos 8 bilhões  de dólares. 
Um dos exemplos disso é a importação de celulares  que aumentou 111% no primeiro semestre de 2011, preocupando as  fabricantes nacionais. As compras de terminais produzidos fora do País  movimentaram 490 milhões de dólares no primeiro semestre, ante 232  milhões de dólares no mesmo período em 2010.
"Não estamos  conseguindo colocar os nossos produtos no quintal [na América Latina]  por causa da desindustrialização", afirma Barbato, que espera que o  governo adote medidas de incentivo para os que produzem aqui, com  revisões do Processo Produtivo Básico (PPB). 
Em encontro com os  empresários em dezembro, em São Paulo, o ministro da Ciência, Tecnologia  e Inovação, Aloizio Mercadante, garantiu que o governo federal está  alinhavando um programa para preservar a indústria nacional. Ele  anunciou que as mesmas exigências de nacionalização da lei de incentivos  dos tablets podem ser estendidas para os celulares, notebooks e PCs. 
"Vamos  aprofundar as exigências de PPB e aumentar as exigências de conteúdo  local em todas as cadeias estratégicas", disse Mercadante, informando  que iniciativas similares as que estão sendo implementadas no setor  automobilístico podem ser levadas a área de TIC.
No setor  automotivo, o governo brasileiro está exigindo um índice de 65% de  nacionalização dos automóveis montados no Brasil. O ministro afirma que  na China essa porcentagem chega a 90%.
Att.
Edney Marcel Imme
 
 
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